MARIA CLEIDE |
ANTONIA SIMÕES |
¹Maria Cleide da Silva
² Maria Antonia da Silva Simões
RESUMO
Visa-se retratar a Reforma Protestante, evidenciando a princípio o
contexto medievalista no qual a Igreja Católica Romana encontrava-se como a
instituição mais importante e, por conseguinte manipulava todos os aspectos da
sociedade, além de praticar um cristianismo completamente diferenciado do
Cristianismo Primitivo, enriquecendo ilicitamente, vivendo na imoralidade, bem
como na prática do comércio das indulgências. Ressalta-se ainda, o processo de
desenvolvimento da Reforma que foi originada por Martinho Lutero, a partir de
sua iniciativa ao tornar públicas suas 95 teses, a qual suas narrativas criticavam
principalmente as indulgências.
_____________
¹Pós-Graduada
em História Sócio-Cultural pela UFPI – PI, Teóloga pelo CFMSV – MA.
² Teóloga pelo CFMSV - MA
INTRODUÇÃO
Ocorreu no século XVI uma revolução que marcou profundamente a sociedade
européia ocidental, a Reforma Protestante. Evidentemente, não aconteceu
instantaneamente, mas vários fatos e acontecimentos foram se formando na Idade
Média, de modo que as estruturas políticas, sócio-econômicas já não suportavam mais,
inclusive a estrutura religiosa. Nesse período, a Igreja católica Romana
predominou, mantendo sobre seu domínio todos os aspectos da sociedade,
manipulando através do seu conhecimento, onde suas afirmativas eram tidas como
verdades incontestáveis, condenando no Tribunal da Inquisição, os que se
mostravam contrários, situação que contribuiu para sua eclosão.
Pode-se assim, constatar que a sociedade vigente vivia um período de
crise, na qual “alguns fatores explicam a necessidade de ruptura interna na vida
da Igreja católica e o nascimento de novas Igrejas, tais como: a crise do
Papado e da Cúria romana; Cobrança de taxas dos católicos e dos países
católicos, em nível cada vez mais insuportável; Séria crise econômica atinge
cavaleiros e camponeses, vivendo numa
miséria crônica; Roma interfere na vida interna das nações católicas, que cada
vez mais sentiam o desejo de independência – Alemanha, Suíça, Inglaterra e
França; A vida moral deixava a desejar” (HEERDT, p.128), e a venda das indulgências.
Assim, diante desse contexto, originou-se a Reforma Protestante, que logo
firmou suas raízes, atravessou séculos e encontra-se consolidada em nosso cotidiano,
por meio da iniciativa de Martinho Lutero - autor do Protestantismo - que
buscou voltar às práticas do verdadeiro Cristianismo, iniciado por Jesus
Cristo.
A INFLUÊNCIA DA
IGREJA CATÓLICA NA IDADE MÉDIA
Século V, início da Idade Média, declínio do Império Romano. Para
que tivesse ocorrido sua queda, “uma das explicações mais simples é aquela
segundo a qual Roma caiu tão somente devido à violência dos ataques germanos.
No entanto, os bárbaros haviam estado sempre prontos a atacar Roma, durante
toda sua história. A pressão dos germanos, com efeito, crescia em certas
épocas, mas suas invasões jamais teriam tido êxito se não ocorressem em
momentos em que Roma
já se apresentava debilitada internamente” (BURNS, p.11). Problemas políticos,
problemas econômicos, podem ser considerados como algumas das causas internas
do declínio. Mas, o estopim, sem dúvida, foi a invasão dos povos bárbaros,
efetivando o processo de transição do modo de produção escravista para o
feudal, construindo uma nova sociedade mesclada pela cultura romana e pela
cultura bárbara, o que de imediato assumiu a característica da ruralização.
Ocorre ainda, a “substituição de uma economia monetária... por uma economia
natural e de subsistência” (AQUINO, p. 08), onde o comércio era realizado à
base da troca de mercadoria por mercadoria.
No feudalismo, “a terra era a medida da riqueza. Assim, a propriedade das
terras ou feudos conferia aos senhores feudais poder e autoridade: o poder de
controlar a produção dos bens necessários à sobrevivência; a autoridade de
subjugar, na condição de servos, os homens que, nada possuindo, recebiam em
arrendamento terras para cultivar” (AQUINO, p. 09-10). Porém, apesar de seu
poder e de sua autoridade não eram os senhores feudais quem controlavam a
sociedade, mas a Igreja católica. Esta havia se tornado a instituição mais
poderosa diante de um contexto que gerava incerteza e insegurança, pois foi a
única que não sofrera perdas com a invasão dos povos bárbaros, permanecendo
intacta, fator que contribui para que o Cristianismo se tornasse a religião
oficial do Estado feudal.
Mas “Usando de figura, diremos: o Grande Médico deixou uma receita para
remediar os males de um mundo de pecados e de sofrimentos. Essa receita provou
a sua eficácia maravilhosa quando foi pela primeira vez administrada, mas
falsificaram-na depois: omitiram um ingrediente aqui, juntaram outro ali, até
que já pouco se assemelhava à original”(SCOTT, p.124), responsabilidade centrada
nas mãos da Igreja Católica, a qual falsificou os ensinos de Cristo, alterando
sua essência, gerando assim, a decadência das práticas primitivas.
A Igreja católica, por dispor de grande poder econômico, por ter se
tornado a maior detentora de terras, devido às doações feitas pelos fiéis, os
tributos, e mais tardiamente o comércio das indulgências e da simonia, predominando
político e ideologicamente, determinando a conjuntura medieval, “à medida que
conseguia assegurar a ordem e a disciplina... trabalho desenvolvido pelos
Doutores da Igreja: Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Jerônimo. Seus
esforços concentraram-se na organização da disciplina e do culto, na fixação
dos dogmas e da moral, a fim de fortalecer a unidade da Igreja e dar aos homens
da época como que um código de ética que norteasse as suas ações, dizendo-lhes
de antemão o que era certo e o que era errado, o que era Bem e o que era Mal. A
Igreja assumia, assim, a tarefa de pensar por todos os homens da época... Por
isso, as idéias religiosas eram colocadas em termos absolutos e inquestionáveis
sob a forma de dogmas e de uma moral rígida” (AQUINO, p.363-364).
Devido sua posição, a Igreja católica, passou a dar explicações para
todos os fatos e acontecimentos, onde na mentalidade do “homem medieval, o
referencial de todas as coisas passou a ser o sagrado” (FRANCO JÚNIOR, p. 58).
Tudo o que acontecia de bom ou ruim era tão somente Deus quem realizava. O
sagrado e o profano, nesse período, eram utilizados pela Igreja para manter sua
autoridade e subjugar o povo e como também, segundo algumas literaturas, o
clero representava a grande maioria intelectual, controlando a educação
vigente, “monopolizando praticamente o saber ler e escrever, dominando o
ensino, a Igreja dirigiu as atividades culturais e formulou os princípios
jurídicos e políticos que nortearam o Mundo Medieval europeu” (AQUINO,
p.365-366), estendendo sua influência a todas as estruturas.
Na sociedade, segundo George Duby, a Igreja católica afirmava, que “Deus
tinha distribuído tarefas específicas a cada homem; uns deviam orar pela
salvação de todos, outros deviam lutar para proteger o povo; cabia aos membros
do terceiro estado, de longe o mais numeroso, alimentar, com o seu
trabalho, os homens de religião e da guerra”, determinando o papel e a classe a
que cada indivíduo deveria permanecer, caracterizando uma sociedade sem nenhuma
possibilidade de mobilidade social, pois como era Deus quem havia distribuído,
cabia a cada um a responsabilidade de cumprir com sua determinação.
Portanto, “Por toda a Europa
reinava apenas uma Igreja; se um homem não era batizado na Igreja, não era
membro da sociedade. Quem quer que fosse excomungado pela Igreja perdia automaticamente
seus direitos civis e políticos [...] Durante muito tempo nunca houve outra
fonte de educação, além da eclesiástica. E era enorme a autoridade que a Igreja
possuía, não só sobre as almas dos homens como também sobre seus negócios”
(FREMANTLE, p.), mantendo uma relação de controle na sociedade.
UMA ANÁLISE HISTÓRICA DO PROTESTANTISMO:
LUTERO
De todos os legados da humanidade, a palavra, falada ou escrita, é um dos
mais importantes. Através da palavra, conhece-se a identidade cultural do
falante, eleva-se o espírito, transforma a realidade, coloca as pessoas em
posição de subjugado e fere-se como uma navalha. A habilidade do uso com as
palavras revitaliza quem está em situação difícil. No meio do deserto,
vitimados pela sede, fome, cansaço um grupo de pessoas está a ponto de se dar
por vencido. Porém, se alguém fizer uso da palavra, objetivando encorajar,
reanimar os demais, dizendo que o momento difícil será superado, porque todos
são vencedores, não tenha dúvidas, as dificuldades serão realmente superadas.
Mas, do mesmo modo que engrandece o espírito, a palavra pode destruí-lo, como
notadamente percebemos ao percorrer a trajetória da Igreja Católica Romana,
onde a maioria das pessoas na sociedade medieval encontrava-se sobre sua
palavra, da qual provocava gradativamente sua degradação. Porém, como a palavra
possui várias funções, e um delas é a de transformar a realidade, Martinho
Lutero afirmou que: “A Salvação é por fé”,
em contraposição ao que a Igreja católica pregava – a idéia de que a salvação
era alcançada pelas obras e o perdão pela compra de indulgências – provocando
uma verdadeira revolução na Idade Moderna.
Essa afirmativa de Lutero provocou sistematicamente um processo, que
desencadeou uma mudança radical na vida cotidiana de muitos que estavam
acostumados a ouvir somente as “verdades” da Igreja católica. Mudança essa, que
possui raízes profundas e que vem atravessando séculos, encontrando-se vigente
na atualidade. A Europa, especificamente no território que corresponde hoje, a
Alemanha, na época parte do Sacro Império Romano-Germânico, serviu de cenário
para o início desse processo nomeado Reforma Protestante.
Segundo Robert Nesbert, “o modo mais significativo de tratar a grande
Reforma Protestante do século XVI, pelo menos do ponto de vista da História da
filosofia social é explicitadamente em termos de uma revolta contra a
comunidade católica, incorporada, visível, que entra em vigor por volta do
século XIII” (Nesbert, p.207), antes do que se pensara. No século XIV, a Igreja
católica já era criticada por Jonh Wyclif na Inglaterra e Johann Huss na
Boêmia, demonstrando seu repúdio a venda de indulgência e ao luxo excessivo em
que vivia o alto clero, defendendo, no entanto, a autoridade da Bíblia e sua
livre interpretação pelos cristãos, motivos pelos quais foram mortos na
fogueira da inquisição. Porém, a efetivação da Reforma, que incitou mudanças
significativas ocorreu através de Martinho Lutero Armstrong Karen, filho de
Juan Lutero e Margarita Ziegler, que nasceu
em Eisleben, uma cidade da Saxônia, no condado de Mansfield, no dia 10 de
novembro de 1483. Era a princípio de família humildes, porém, seu pai por
esforço próprio, posteriormente, chegou a ser um magistrado. Ele iniciou seus
estudos prontamente. Em 1501, foi enviado a Universidade de Erfurt, onde passou
pelos cursos de lógica e filosofia. Aos vinte anos de idade, recebeu o título
de licenciado, e passou logo a ensinar a física de Aristóteles, ética e
assuntos ligados à filosofia. Por indicação de seus pais, dedicou-se à lei civil,
a fim de trabalhar como advogado; porém foi separado dessa atividade devido, ao
andar certo dia pelos campos, ter sido lançado ao solo por um raio, enquanto
seu amigo morreu ao seu lado. Este fato afetou-o de tal maneira que, sem
comunicar o seu propósito a alguém, retirou-se e enclausurou-se junto à ordem
dos eremitas de Santo Agostinho.
Com o passar dos tempos, diante de suas dúvidas Lutero escreveu: “Embora
eu vivesse uma vida impecável como monge, sentia-me um pecador de consciência
pesada diante de Deus. Também não podia acreditar que o tivesse agradado com
minhas obras. Longe de amar aquele Deus justo que pune os pecadores, eu na
verdade o odiava. Eu era um bom monge, e mantinha minha ordem de modo tão
estrito que se algum dia um monge pudesse chegar ao paraíso pela disciplina
monástica, eu seria esse monge. Todos os meus companheiros no mosteiro
confirmariam isso [...]. E, no entanto minha consciência não me dava certeza, e
eu sempre duvidava e dizia: ‘Não fizeste isso direito. Não foste suficientemente
contrito. Deixaste isso de fora da confissão’.” (ARMSTRONG, p.279). Lutero em
seu íntimo sentia-se um mero pecador, bem como sentia que realizava - suas
obras - não era suficientemente favorável para que viesse herdar a salvação,
além de possuir uma visão errônea da pessoa de Deus.
Lutero tinha acesso às diversas literaturas e exercia a função de
copista. Segundo John Fox “ao vasculhar a biblioteca do convento dos
agostinianos, encontrou acidentalmente, uma cópia da Bíblia latina que jamais
havia visto antes”. Esta atraiu poderosamente a sua curiosidade; leu-a
ansiosamente e sentiu-se atônito ao perceber que apenas uma pequena porção das
Escrituras era ensinada ao povo. Percebeu ainda, que havia um distanciamento
entre o que a Igreja católica ensinava para o que se encontrava na Bíblia – como
fora falado anteriormente, uma deturpação do Cristianismo – devido a essa
situação, no seu interior surgiu angústia e indignação, levando-o a uma busca
pela libertação do sistema católico.
De fato o Protestantismo, se evidência no ano de 1517, em virtude das
práticas da Igreja católica, que “parecia cada vez mais corrupta e exploradora,
cada vez mais preocupada com a cobrança de tributos financeiros como o “chamado
'vintém de Pedro', uma arrecadação [...] sobre cada lar da cristandade” (BURNS,
p. 459), para sustentar a evidente luxúria e imoralidade que, conforme crença
geral se haviam transformado na própria essência do Papado, em Roma” (NESBERT,
p.208), bem como da simonia, e principalmente do comércio das indulgências, que
de forma generalizada visava apenas sua satisfação.
A prática da corrupção e da exploração, foram veículos que enriqueceu
ilicitamente a Igreja Católica Romana, pois “muito de sua riqueza foi adquirida
através do confisco de propriedades das pobres vítimas da inquisição” (HUNT,
p.79), “ nome dado a um tribunal [dessa] Igreja
no século XIII para descobrir e extirpar heresias” (AZEVEDO, p. 234), os
quais eram tidos por heréticos, todos aqueles que se mostravam contrários aos
princípios afirmados por esta instituição, como os “huguenotes, albigenses,
valdenses e outros cristão que foram massacrados, torturados e queimados às
centenas de milhares. Isso ocorreu porque eles simplesmente recusaram
alinhar-se com a Igreja católica, com sua corrupção, dogmas e práticas
heréticas. Por razões de consciência eles tentaram seguir os ensinamentos de
Cristo sem depender de Roma, e por esse crime foram amaldiçoados, caçados,
aprisionados, torturados e assassinados” (HUNT p.85). Os assassinados, nesse Tribunal, “eram
exumados para serem julgados e suas propriedades eram confiscadas dos seus
herdeiros pela Igreja”.Um historiador escreve: As punições da Inquisição não
acabam quando as vítimas eram queimadas ou trancadas nas masmorras da
Inquisição. Seus parentes eram reduzidos à miséria pela lei que determinava que
todas as suas posses fossem confiscadas... “Julgamento de cadáveres (HUNT, p.
79), circunstância que revela que não somente o considerado herético, como
também sua família sofria penalidades e consideravelmente a Igreja enriquecia”.
A inquisição “sacrificou, desde o seu início, centenas de milhares – ou como
alguns escritores asseveram – milhões de vítimas. O total nunca será conhecido
até o dia em que a terra descubra o seu sangue e nunca mais cubra os seus
mortos”. (SCOTT p. 170). Dessa forma, essa foi utilizada não somente para perseguir,
como também para enriquecer.
Uma outra prática a ser contextualizada nesse período é da imoralidade,
que ocorreu por intermédio da imposição do Celibato ao clero, que ainda hoje
permanece vigente no seio católico, mas que em muitos casos não foi e não é
respeitado por alguns dos que fizeram e fazem parte de sua hierarquia, sendo
visível a imoralidade no meio dos que se chamam representantes de Cristo.
“Muitos papas, como Sérgio III(964-911), João X (914 – 928), João XII
(955-1644), Inocêncio VIII (1484 – 1492), Urbano VIII (1623 -1644) e Inocêncio
(1644 -1655), assim como milhões de cardeais, bispos, arcebispos, monges e
padres, através da história violaram esse voto. O celibato não apenas fez
pecadores os membros do clero que caíram na prostituição, mas transformou em
prostitutas aquelas com quem eles coabitaram secretamente...Pio II declarou que
Roma era a “única cidade governada por bastardos” (filhos de papas e cardeais).
O Historiador católico e ex-jesuíta Peter de Rosa escreve: Os papas tinham
amantes de 15 anos de idade, eram culpados de incesto e perversões sexuais de
toda sorte, tinham inúmeros filhos, eram assassinados em pleno ato de adultério
[por maridos ciumentos que os encontravam na cama com suas esposas]” (HUNT, p.
82). “Alguns papas foram colocados no ofício por suas amantes – seis deles por
prostitutas (que eram mãe e filha). Teodora de Roma (esposa de um poderoso
senador romano) teve muito sucesso usando essa estratégia. Ela manipulava os
políticos de Roma, gabando-se do fato de sua filha Morósia ser amante do papa
Sérgio III. Conhecida como “amante de Roma”, Morósia não hesitava em ordenar
assassinatos para conseguir o que ambicionava. A própria Teodora era amante de
dois eclesiásticos, os quais ela conseguiu, após a morte de Sérgio III, levar
em rápida sucessão ao “trono de Pedro” - os papas Anastácio III (911-913) e
Lando (913-914). Quando se apaixonou por um padre de Ravena, ela também o
conduziu ao trono papal. (HUNT p.108). Atualmente, a imoralidade nessa
instituição, apresenta-se através da pedofilia que em muitos casos, foi
estampada nos noticiários, onde seus representantes transgridem suas leis e
deturpam doutrina de Cristo.
Todavia, de todas as práticas a mais criticada por Lutero foi da
indulgência, que contradiz o que a Bíblia afirma acerca do perdão dos pecados,
como se encontra escrito em 1 Pedro 18-19
a afirmativa de que devemos saber “que não foi mediante
coisas corruptíveis, como ouro ou prata, que fomos resgatados do nosso fútil
procedimento que nossos pais nos legaram, mas pelo precioso sangue, como de
cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”.
Segundo o clero católico a indulgência, que significa a venda do perdão
mediante dinheiro (ouro ou prata) e ou alguns bens, como áreas de terra,
animais (coisas corruptíveis) concederia ao ser humano o perdão de seus pecados
e consequentemente, este adquiriria a salvação. Essa era uma prática comum e
utilizada pela a hierarquia eclesiástica. Porém é importante enfatizar que o
perdão dos pecados, como se observa em 1 Pedro:18-19, se manifestou quando
Jesus por livre e espontânea vontade, por amor ao ser humano foi crucificado na
cruz do calvário e por fim declarou “estar consumado”, contrariando
completamente o que a Igreja afirmava ser pelas indulgências. Foi exatamente a
venda das indulgências que impulsionou Lutero a iniciar a Reforma, quando o Papa
Leão X, em março de 1517 que tinha a incumbência de continuar a construção da
Catedral de São Pedro em Roma, aprovou a concessão de indulgências gerais a
todos que contribuíssem com qualquer soma em dinheiro.
Essa forma de exploração
levou Lutero a analisar e, por conseguinte construir uma ideologia, que fixou
na porta da igreja, em Wittenberg, no dia 31 de outubro, local onde residia, ou
seja, as suas 95 teses, caracterizando um marco referencial para a história do
Cristianismo, por tornar pública a necessidade de reforma no campo religioso,
efetivando-a a partir de então. Notoriamente as teses se opunham as
indulgências quando, por exemplo, afirmavam: “Tese 21. Erram, portanto, os
pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e
salva pelas indulgências do papa; Tese 24. Por isso, a maior parte do povo está
sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de
absolvição da pena; Tese 27. Pregam doutrina mundana os que dizem que, tão logo
a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu]; Tese 52.
Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgência, mesmo que o
comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas
mesmas.” Todavia existiam teses que defendiam que o perdão dos pecados como
afirma a Bíblia é pelo sacrifício de Cristo, como está escrito na “Tese 37”.
Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de
Cristo e da Igreja, que são dons de
Deus, mesmo sem carta de indulgência;
A reforma se difundiu por várias áreas da Europa, levando muitos a se
converterem ao protestantismo. “O luteranismo firmou-se, como era de se
esperar, na Alemanha, mas a sua presença também se fez sentir, de modo vigoroso
na Suécia, Noruega e Dinamarca, lugares em que se tornou a religião oficial” (LUIZETTO,
p.21-22).
È interessante ressaltar, que Autores como Flávio Luizetto e Robert
Nesbert afirmam em seus escritos que o protestantismo não se formou apenas por
razões de ordem religiosa, mas que causas sociais, políticas e econômicas,
favoreceram, portanto a sua origem, assim como sua consolidação e expansão,
como, por exemplo: a fome, provocada pela baixa produtividade do solo; as
epidemias, como a peste negra; as guerras, sendo a mais conhecida a dos Cem
anos; assim como, o renascimento. De fato não podemos contestar, mas enfatizar
que Lutero possuía conhecimento da realidade na qual se encontrava inserida a
população daquele período, e acreditou que uma reforma no seio religioso
poderia refletir em todas as demais instâncias. Contudo, devido sua iniciativa,
não se pode indubitavelmente negar que vidas realmente foram e até hoje são
transformadas, cumprindo o diz a Palavra de Deus “conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará”(João 8:32), promovendo digressão na sociedade.
O “processo de expansão do Protestantismo nem sempre foi
tranqüilo, como demonstram, as chamadas guerras religiosas ocorridas na França.
Os huguenotes, como eram chamados os protestantes franceses, enfrentaram forte
oposição, marcada pela intolerância religiosa e por trágicas perseguições antes
de conseguirem, pelo Édito de Nantes (1598), uma relativa liberdade de culto. A
solução encontrada pelos protestantes para a livre prática do culto foi a
emigração em massa” (LUIZETTO, p.22).
Lutero também enfrentou oposição, visto que havia exposto as “práticas”
da Igreja Católica Romana e esta como sempre procurava reprimir os que se
pronunciavam. Foi pressionado a negar suas Teses, mas manteve-se firmes em suas
proposições afirmando que não pregaria nada contrário às Escrituras Sagradas.
Durante esse período suas idéias iam se expandindo e se firmando. “Muitos
príncipes alemães o apoiaram porque desejavam libertar-se em seus domínios da
influência do papa e do imperador, que era católico” (ARRUDA, p.40).
Por fim, na reunião denominada Dieta de Worms, Lutero foi questionado.
Conforme Jonh Fox “Eccius, o oficial, falou do seguinte modo: “Responda agora à
demanda do imperador. Manterás todos os livros que reconhecestes serem de tua
autoria, ou revogarás parte dos mesmos e te humilharás? ”Ao passo que ”Martinho
Lutero respondeu modesta e humildemente; porém, não desprovido de uma
determinada firmeza e consciência cristã: Considero que vossos honoráveis demandais um resposta plena, isto digo e
professo tão resolutamente quanto posso, sem dúvida e nem sofisticações, que se
não me convencerdes através do testemunho das Escrituras (pois não dou crédito
nem ao papa e nem aos seus concílios gerais, que têm errado muitas vezes, e que
têm sido contraditórios contra si mesmos), a minha consciência está tão ligada
e cativa destas Escrituras que são a Palavra de Deus, que não me retrato nem
posso me retratar de absolutamente nada, considerando que não é piedoso nem
legítimo fazer qualquer coisa que seja contrária à minha consciência. Aqui
estou e nisto descanso: nada mais tenho a dizer. Que Deus tenha misericórdia de
mim!”. Porém, os príncipes consultaram entre si e exigiram uma resposta
objetiva de Lutero “negativa ou afirmativa”, sendo sua resposta: “Estou atado
pelas Escritura”, o que fez com que antes do término da reunião, Carlos V redigisse
um édito, datado de 8 de maio, decretando que Martinho Lutero, de conformidade
com a sentença do papa, fosse considerado
membro separado da Igreja, cismático e um herege obstinado e notório. Assim,
Lutero promoveu então uma guerra aberta ao papa e aos bispos; e com a
finalidade de conseguir que o povo menosprezasse as autoridades destes, tanto
quanto fosse possível, escreveu um livro contrário à bula papal e outro
intitulado “ A Ordem Episcopal”. Também publicou uma tradução do Novo
Testamento no idioma alemão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nada conseguiu impedir a expansão da Reforma. Atualmente identificamos os
frutos através de várias Igrejas Protestantes, como as Igrejas Batistas,
Assembléias de Deus, Mundial, da Graça, etc., as quais visam viver segundo o
Cristianismo Primitivo, onde se pode comprovar que vidas têm experimentado e
vivido experiências sobrenaturais, como curas físicas.
Como afirma Dave Hunt “lamentamos principalmente por aqueles católicos
romanos sinceros, que depositam grande confiança em sua Igreja, aceitando o que a
hierarquia católica lhes diz, sem estudar a história” (HUNT, p.18), que relata
os acontecimentos que dizem respeito à Igreja Católico Romana, e tão pouco a
Bíblia para aprenderem a verdade da vida eterna, da cura, da libertação e que,
por conseguinte revela quem realmente Deus é e o que pode realizar na vida de
todo aquele que decide acreditar Nele. Lamentamos ainda, o fato dessa instituição
ter atualmente, modificado suas práticas apenas em alguns aspectos. Pois, se
fizermos uma análise comparativa do ontem com o hoje, mesmo que superficial,
perceberemos que os dogmas que citamos continuam instituídos – com exceção do
comércio das indulgências - pautados em uma doutrina que prega “libertação”,
mas que mantém o homem no escravismo da prostituição, do alcoolismo, da
hipocrisia, do medo das enfermidades, da idolatria (Gálatas 5:19), atos que
condenam o homem ao hades, caso não se arrependam e invoquem a Jesus e
continuem vivendo na política de que é bom e, portanto pelas obras será salvo.
Sem dúvida o texto bíblico que afirma “conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará” (João 8:32), caracteriza a iniciativa de Lutero, que se posicionou contra
o modelo religioso vigente por ter tomado conhecimento da Palavra de Deus. E
como esta é viva e eficaz (Hebreus 4:12) e ninguém pode negá-la, pois para
efeito de comprovação muitas profecias têm se cumprido, sendo facilmente
comprovadas, veio à tona todas as mazela realizadas pela Igreja católica,
descortinando o entendimento humano, gerando assim libertação de um sistema
opressor e consequentemente, um retorno as raízes do Cristianismo.
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